domingo, fevereiro 20, 2005

Sobre o amargo do mel

Aqui vai mais um de um concurso, que nunca ganhei... deixo o cheirinho... nem que seja a tarte de maçã...

A lua brilhava no céu. Não brilhava vulgarmente, normalmente imperceptível e etérea. Naquele dia algo estava errado. Não sei se o que estava errado era o que deveria estar certo, nem ele, nem o outro, nem a rapariga o sabiam. Eu era o outro. Pode ser que me chame o outro porque nunca me identifiquei com nada nem com ninguém. Talvez me devesse identificar comigo mesmo ou com a minha circunstância. Ora, eu não me encontrei, e sempre pensei que circunstância era um bar jet da minha terra. Por mim naquele dia, passou-me num vasto e rápido momento, toda a fúria, todo o horror, todo o asco que a humanidade e tudo o que a rodeava representava para mim. Não sabia ao certo se tinha razão, nunca soube se tinha razão ou não. Realmente, quando as coisas não corriam do mesmo modo que eu imaginava que correriam, eu sentia uma raiva imensa...
A lua continuava lá, não brilhava vulgarmente normalmente imperceptível e etérea. Estava lá no alto, cheia iluminava tudo o que a rodeava. As pedras estavam mais vivas... Do meu lado direito, as ervas daninhas que ilegalmente medravam, abanavam-se com o bafo quente de Inverno do vento. Todas as laranjas estavam iluminadas também, mas só as laranjas, porque as folhas verdes estavam baças demais para se refletirem contra a escrupulosa luz que desvendava, que eu, ele, e a rapariga nos tínhamos matado, no momento em que, embevecidos com a luz, apanhamos um punhado de terra do chão e engolimos como se fosse néctar de maçã. Ao lembrar-me bebi um gole do sumo das laranjas brilhantes num copo de estrelas. Naquele céu, não havia estrelas, só lua e umas nuvens que anunciavam chuva para o dia seguinte. Sumo de maçã nunca foi o meu preferido. Gostava mais do de laranja. Porém, costumava comprar de morango para não o partilhar com ninguém. Só com os meus comigos que não têm forma, mas sei que são muitos, sei que não sou só eu aqui. Sei que o meu eu se divide em mais uns poucos. O Eu espontâneo e sorridente. O Eu calmo e apaixonado. O Eu com raiva por tudo. O Eu excêntrico e vaidoso. O Eu sensível demasiado sensível...
Poderia dar nomes a todos eles. Ao Eu espontâneo e sorridente, dar-lhe-ia o nome de Sofia. Ao Eu calmo e apaixonado, talvez Mariana, transmite leveza, calma e soa tão bem aos lábios certo? Ao Eu com raiva por tudo, chamar-lhe-ia Katya: é seco, feroz, sedento, rápido, ríspido, mas ao mesmo tempo sensual. Ao Eu excêntrico e vaidoso talvez pudesse ser Matilde, é um nome calmo e nobre que lembra mulheres na casa dos trinta, ah!, E também vaidade, sim? E finalmente ao Eu sensível, demasiado sensível, chamar-lhe-ia Mel, apenas, doce e sensível. Mas ao mesmo tempo misterioso o suficiente, para não poder passar o risco e tornar-se meu Eu com raiva. Ou seja, oh Meu Deus!, eu sou vários, sou cinco em um. Nem sou como os champôs, que são dois em um. Sou o outro, o diferente, o que se encerra em si mesmo, aquele que não fala com ninguém sobre o mais íntimo de si. Aquele que todos pensam que conhecem, mas que ninguém conhece. Aquele que tem de se dividir para ser compreendido. Aquele que todos pensam que é louco quando muda inconscientemente de personagem. Aquele que...
No dia em que ele me conheceu eu era Mariana. Fui-o durante muito tempo. Mas houve dias em que me transformei em Katya e ele disse que não me aguentava. Um dia fui Sofia, ele achou-me infantil... Nunca ninguém me amou por inteiro. Porque para me amar a mim é preciso amar um punhado de gente que ninguém quer aguentar. Assim sou sozinha. Vivo na solidão. Como um porco vive num lamaçal: é nojento ninguém quereria, porém quem vive nele, não quer outra coisa e acha-o um paraíso...
Naquele dia a Mariana matou-se com ele e com a rapariga. E estava rouca de gritar que me doía. Estava rouca de dizer que não era aquilo que eu queria para mim. Assim fugi...
Raiva, raiva, fúria, fúria. Raiva, grito... Ahhhhh. Raiva. Apetece-me agarrar tudo com força, mandar o telemóvel contra a parede, apetece-me matar, rasgar as folhas do Passado, deixar tudo espalhado, dar chutos no cimento... Quando fico assim saio e vou dançar. A Matilde fechou a porta do apartamento e foi dançar.
Ao andar, o único som da rua era o seu próprio som. O som dos saltos a baterem no chão, nas paredes, a voltar atrás. Uma refracção inconsciente, estimulante... E ela começou a correr. A raiva materializa-se entre os pulmões, parece que se sente uma esfera de dez centímetros de diâmetro, aí dentro e só apetece arrancá-la cá para fora.

- Hey, por aqui?
- Precisava de sair.
- Então anda!

Um grupo de homens e mulheres atravessavam as ruas escuras, subalternas, inconscientes, ébrias, frias da Noite, com sorrisos. Porém ainda havia a raiva.
A Matilde entrou, e começou a dançar. A música entra pelas pontas dos dedos e apodera-se do corpo. Um rapaz aproxima-se. Matilde afasta-se. Vai à casa de banho, que tem um fila que ultrapassa a porta de saída. De repente transforma-se em Katya. Vê-se ao espelho: estou cansada, tenho três rugas nos cantos dos olhos, tenho um amor pendente dentro de mim, estou mais magra, nasceu-me uma borbulha...
Katya sai da casa de banho e pede uma bebida. Observo toda a gente. A maior parte está bêbada, movem-se. Não compreendo. Não faz sentido. Dançar. Para quê?

" Talvez para sentir? "
- Não Mel, não precisamos de sentir para viver, precisamos é de sonhar.
" Temos Futuro? "
- Não. Nunca teremos Futuro, só Presente. O Presente é que toma as nossas rédeas, que estão soltas no momento em que sonhamos. Quando nos puxam as rédeas caímos na realidade. E a queda é seca.

Saí da discoteca. Há dias em que simplesmente não nos apetece estar em lado nenhum. Eu, bem eu não me apetecia estar em lado nenhum. Então... A lua brilhava no céu. Não brilhava vulgarmente, normalmente imperceptível e etérea...


(Puxo os lençóis da cama.)


Tento esquecer que quase me matei. Onde estou?

5 comentários:

Anónimo disse...

óla amiga...
disse-te que não to dava...
mas hoje é um dia de loucura...
agora desfruta este grande texto..
...e adivinha quem sou



Tenho a sensação que cresci depressa demais, que a vida está a passar-me ao lado. Trabalho tanto que me esqueço do que é verdadeiramente importante, do que me faz falta. Há uns dias ouvi falar de uma rapariga mais ou menos da minha idade que está em Londres a trabalhar numa padaria. Deixou o Porto, o conforto da família e dos amigos e foi. Ir é o verbo chave. Senti ima inveja tão grande... Eu sei que estou a construir uma carreira, que é o meu futuro, que faço teatro e cinema que é o que eu mais gosto de fazer na vida, blá,blá,blá... Mas abandonava tudo isso para trabalhar num café em Budapeste. Agora é idade dos riscos. Amanhã é tarde demais.

Uns começam a trabalhar porque querem, outros porque não têm alternativa, outros desperdiçam 4 anos vitais num curso superior a recitar Baudelaire de cor, a beber cerveja até cair para o lado, a foderem a torto e a direito e a programarem-se para serem os capitalistas grosseiros de amanhã.

Usam t-shirts com fases provocadoras para compensar o resto da vida de fato e gravata, a businar dentro do carro quando está trânsito, a jantar em restaurantes in, a passar fins de semana no Algarve e férias grandes nos Açores, a ler o Jornal de Notícias às 8.20 da manhã no metro para se enfiarem a seguir num escritório com pessoas que nem sequer sabem o seu nome, a sorrir cada vez menos para a mulher, a falar cada vez menos, a tornar o sexo em algo rotineiro, a perder o prazer de acampar com os amigos, a deixar de reparar como o sol hoje brilha mais do que ontem, como a senhora que lhe vende o jornal todos os dias, hoje, parecia mais triste (mas ele nem sequer sabe o nome dela como é que podia saber que o marido sofria de cancro?!). O senhor das cautelas hoje disse-lhe bom dia. Ele não ligou. Um cão vadio engraçou com ele. Ele enxotou-o. Deixou de reparar nas cores do Outono, nas pessoas que ficam tão engraçadas com os seus casacos muito grossos, os lábios gretados e a ponta do nariz vermelha, no aroma do tempo que emana dos alfarrabistas, no sabor das gomas, no cheiro da relva acabada de cortar...Deixou de reparar na vida. Vida. Vida. Parece que é uma palavra que se está a esvaziar de valor. Não tarda nada é oca.

Chegam aos 30, 35 anos e esqueceram-se do que foram.

Nessa altura, para eles prazer é sinónimo de Audi ou BMW, de TIMEX, ARMANI,LOREAL,TOMMY,HUGO BOSS,AGATA RUIZ DE LA PRADA, DIVANNI&DIVANNI, cristais da boémia, serviços de jantar do Siza Vieira, ecrãs de plasma e sistemas de som Dolby-Surround,......................................prazer é sinónimo de coisas.

Prazer é sinónimo de coisas.

Está tudo programado.

Tu nasces, tu brincas, tu vais para a escola, tu aprendes a conviver em grupo, chega a adolescência e tu fazes as tuas primeiras coisas erradas: beber demasiada cerveja, fazer amor no banco de trás do carro dos pais, fumar o primeiro cigarro, fumar o primeiro charro,... vais para a faculdade e aí é tua última oportunidade de fazer tudo isso ao mesmo tempo e não sofrer consequências, acabas o curso enamorado de alguém, casas-te, crédito habitação - casa, empréstimo automóvel - carro, emprego numa empresa, filho - crédito paternidade jovem, preocupações: consultas, fraldas, brinquedos, medicamentos, dívidas, dívidas, dívidas, dívidas, crédito, emprétimos, trabalhas ainda mais, deixas de ver a tua mulher tanto quanto querias e perdes os momentos mais importantes do teu filho, ambos se tornam estranhos, adultério, contas para pagar, copos com os amigos para discutir a bola e a quinta das celebridades.........................vazio......................................................vazio........................

PUM PUM! Estás morto.

Recuso-me a ser uma peça na engrenagem.

Não quero chegar aos 40 anos e não ver nada de relevante para trás, sentir que passei ao lado da vida. Não quero que o meu passado se resuma a umas quantas fotografias em que eu apareço a rir. Não quero olhar para o espelho e ter consciência de que nunca mais vi esse riso.

Quero ser pleno. Quero crescer e amadurecer só o suficiente Não quero nunca deixar de ser eu.

Quero nunca mais parar de aprender.

Mas no fundo no fundo que é que eu sei? O que é que eu sei sobre a vida para julgá-la com tanto afinco?

Nada. Rigorosamente nada.

Desculpa tudo isto... Foi um desabafo sem receptor. Não sei se fez algum sentido para ti.... a pontuação deve estar um desastre, mas perfiro não voltar atrás...

Nada disto tem a ver contigo mas tudo isto tem a ver connosco.

Desculpa mais uma vez, isto era para ser um bilhete curto sobre a saudade (acho que tenho de trabalhar a minha falta de objectividade...).

Tenho saudades tuas.

Anónimo disse...

óla amiga...
disse-te que não to dava...
mas hoje é um dia de loucura...
agora desfruta este grande texto..
...e adivinha quem sou



Tenho a sensação que cresci depressa demais, que a vida está a passar-me ao lado. Trabalho tanto que me esqueço do que é verdadeiramente importante, do que me faz falta. Há uns dias ouvi falar de uma rapariga mais ou menos da minha idade que está em Londres a trabalhar numa padaria. Deixou o Porto, o conforto da família e dos amigos e foi. Ir é o verbo chave. Senti ima inveja tão grande... Eu sei que estou a construir uma carreira, que é o meu futuro, que faço teatro e cinema que é o que eu mais gosto de fazer na vida, blá,blá,blá... Mas abandonava tudo isso para trabalhar num café em Budapeste. Agora é idade dos riscos. Amanhã é tarde demais.

Uns começam a trabalhar porque querem, outros porque não têm alternativa, outros desperdiçam 4 anos vitais num curso superior a recitar Baudelaire de cor, a beber cerveja até cair para o lado, a foderem a torto e a direito e a programarem-se para serem os capitalistas grosseiros de amanhã.

Usam t-shirts com fases provocadoras para compensar o resto da vida de fato e gravata, a businar dentro do carro quando está trânsito, a jantar em restaurantes in, a passar fins de semana no Algarve e férias grandes nos Açores, a ler o Jornal de Notícias às 8.20 da manhã no metro para se enfiarem a seguir num escritório com pessoas que nem sequer sabem o seu nome, a sorrir cada vez menos para a mulher, a falar cada vez menos, a tornar o sexo em algo rotineiro, a perder o prazer de acampar com os amigos, a deixar de reparar como o sol hoje brilha mais do que ontem, como a senhora que lhe vende o jornal todos os dias, hoje, parecia mais triste (mas ele nem sequer sabe o nome dela como é que podia saber que o marido sofria de cancro?!). O senhor das cautelas hoje disse-lhe bom dia. Ele não ligou. Um cão vadio engraçou com ele. Ele enxotou-o. Deixou de reparar nas cores do Outono, nas pessoas que ficam tão engraçadas com os seus casacos muito grossos, os lábios gretados e a ponta do nariz vermelha, no aroma do tempo que emana dos alfarrabistas, no sabor das gomas, no cheiro da relva acabada de cortar...Deixou de reparar na vida. Vida. Vida. Parece que é uma palavra que se está a esvaziar de valor. Não tarda nada é oca.

Chegam aos 30, 35 anos e esqueceram-se do que foram.

Nessa altura, para eles prazer é sinónimo de Audi ou BMW, de TIMEX, ARMANI,LOREAL,TOMMY,HUGO BOSS,AGATA RUIZ DE LA PRADA, DIVANNI&DIVANNI, cristais da boémia, serviços de jantar do Siza Vieira, ecrãs de plasma e sistemas de som Dolby-Surround,......................................prazer é sinónimo de coisas.

Prazer é sinónimo de coisas.

Está tudo programado.

Tu nasces, tu brincas, tu vais para a escola, tu aprendes a conviver em grupo, chega a adolescência e tu fazes as tuas primeiras coisas erradas: beber demasiada cerveja, fazer amor no banco de trás do carro dos pais, fumar o primeiro cigarro, fumar o primeiro charro,... vais para a faculdade e aí é tua última oportunidade de fazer tudo isso ao mesmo tempo e não sofrer consequências, acabas o curso enamorado de alguém, casas-te, crédito habitação - casa, empréstimo automóvel - carro, emprego numa empresa, filho - crédito paternidade jovem, preocupações: consultas, fraldas, brinquedos, medicamentos, dívidas, dívidas, dívidas, dívidas, crédito, emprétimos, trabalhas ainda mais, deixas de ver a tua mulher tanto quanto querias e perdes os momentos mais importantes do teu filho, ambos se tornam estranhos, adultério, contas para pagar, copos com os amigos para discutir a bola e a quinta das celebridades.........................vazio......................................................vazio........................

PUM PUM! Estás morto.

Recuso-me a ser uma peça na engrenagem.

Não quero chegar aos 40 anos e não ver nada de relevante para trás, sentir que passei ao lado da vida. Não quero que o meu passado se resuma a umas quantas fotografias em que eu apareço a rir. Não quero olhar para o espelho e ter consciência de que nunca mais vi esse riso.

Quero ser pleno. Quero crescer e amadurecer só o suficiente Não quero nunca deixar de ser eu.

Quero nunca mais parar de aprender.

Mas no fundo no fundo que é que eu sei? O que é que eu sei sobre a vida para julgá-la com tanto afinco?

Nada. Rigorosamente nada.

Desculpa tudo isto... Foi um desabafo sem receptor. Não sei se fez algum sentido para ti.... a pontuação deve estar um desastre, mas perfiro não voltar atrás...

Nada disto tem a ver contigo mas tudo isto tem a ver connosco.

Desculpa mais uma vez, isto era para ser um bilhete curto sobre a saudade (acho que tenho de trabalhar a minha falta de objectividade...).

Tenho saudades tuas.

Anónimo disse...

Hi people
I do not know what to give for Christmas of the to friends, advise something ....

Anónimo disse...

Hello. Good day
Who listens to what music?
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Anónimo disse...

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