domingo, junho 19, 2005

Eugénio de Andrade II




Adeus

Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus.


Eugénio de Andrade





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Eugénio de Andrade I





Eugénio de Andrade | 1923 - 2005

Eugénio de Andrade é um dos mais lidos e traduzidos dos poetas portugueses vivos. Após algumas tentativas juvenis que mais tarde repudiou, impôs-se definitivamente no panorama da actual poesia portuguesa com "As Mãos e os Frutos" (1948). Contemporâneo dos movimentos neo-realista e surrealista, quase não acusa influência de quaisquer escolas literárias, propondo uma poesia elementar, cuja musicalidade só encontra precedentes na nossa lírica medieval, ou num poeta como Camilo Pessanha, que Eugénio de Andrade assume - a par de Cesário Verde - como um dos seus mestres.

Se muitos poetas portugueses da nossa época são marcados pelo desencanto, "Eugénio de Andrade vai buscar ao paraíso da infância, à intimidade com a terra, à pura felicidade de se ter um corpo a fulgurante alegria de alguns momentos privilegiados". Esta poesia à qual se tem chamado solar vai acusando, todavia, o peso do tempo, especialmente desde "Rente ao Dizer" (1992) até a "O Sal da Língua" (1995).

Os 50 anos da sua vida literária de Eugénio de Andrade foram assinalados no Porto com um colóquio internacional sobre a sua obra, cujas actas estão agora disponíveis no primeiro número dos "Cadernos de Serrúbia", editados pela sua Fundação, a Fundação Eugénio de Andrade.



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Álvaro Cunhal II





Álvaro Barreirinhas Cunhal, filho de Avelino Cunhal e Mercedes Cunhal, nasceu na freguesia da Sé Nova em Coimbra, no dia 10 de Novembro de 1913.

Álvaro Cunhal teve dois irmãos mais velhos, António José, que morreu em 1933, com vinte e dois anos, vítima de tuberculose, e Maria Mansuenta, que morreu em Seia, em 1921, com apenas nove anos, também vítima de tuberculose.

A sua infância foi vivida em Seia, terra de seu pai.

Com onze anos de idade muda-se com a família para Lisboa, onde faz os seus estudos secundários no Pedro Nunes e mais tarde no liceu Camões.


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Alvaro Cunhal I


Adeus... 1913|2005 Posted by Hello

Poemário




A ti


Mãos molhadas da chuva seca,
De tanto respirar a loucura do sol,
A brandura, a secura do olhar!
Que sente... o mar, a respirar,
Profundamente...

A folha que do céu caiu,
De um outro madrigal...Cor infernal
Saiu, fugiu, das mãos ainda molhadas,
Dos sonhos fingidos, dos lábios sequiosos,
De sangue...

A tua ternura, o teu toque, o cheiro,
Permeio da luz inquieta, desgastante.
O teu corpo cansado, o prazer, de te ter...
E correr, sofrer, só por te esperar.
E amar?...

Por vezes nem sempre queres voar...
As asas da paixão são arquivos de amor e
É preciso lutar para criar fogo, ardor.
É preciso ser a borboleta das ilusões...
É preciso desfazer amarras, criar emoções.
Cantar canções, voar em balões, embalar-te
Na vida, sem saber o que virá a seguir...

O tempo perde-se na leitura das nuvens,
As pernas cansadas procuram o trigo
Que floresce todos os dias num sorriso, que é teu,
Que é teu beijo, tua vida...
Mas tu, tu és meu...


Cátia Biscaia

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Manif Xenófoba | 18junho2005




Bandeiras de Portugal e do Partido Nacional Renovador (PNR), símbolos da Frente Nacional, cabeças rapadas e cartazes apelando ao repatriamento dos imigrantes e ao orgulho nacionalista, saudações nazis e o hino nacional, várias vezes repetidos, marcaram a manifestação de extrema-direita que ontem à tarde se realizou entre a Praça do Martim Moniz e o Rossio.

Com cerca de 300 pessoas, segundo a polícia, e quase mil nas contas do PNR, esta foi, em qualquer dos casos, a maior concentração pública de sempre deste tipo no País. Já na Praça do Rossio, esteve a um passo de degenerar no confronto físico, quando populares gritaram palavras de ordem como "fascistas" e "25 de Abril sempre". A tensão começava a subir, com gritos desencontrados de ambos os lados, e só a actuação do Corpo de Intervenção da PSP e polícias com cães o impediram. Distúrbios houve apenas poucos minutos depois, já na Rua do Carmo. O Corpo de Intervenção actuou para proteger dois indivíduos perseguidos por alguns manifestantes e acabou por agredir um repórter fotográfico, quando dispersava as pessoas que tinham acorrido ao local.

Contradição. Grupos de jovens, alguns apoiantes envergonhados e outros tantos curiosos começaram a concentrar-se no Martim Moniz às 13.30, antes da hora marcada para o início do protesto. Cabeças-rapadas ostentando bandeiras portuguesas e cruzes suásticas tatuadas nos braços começavam já, por essa altura, a estender no chão as primeiras faixas que davam o mote à manifestação "Isto é nosso", "Não existem direitos iguais quando és um alvo por seres branco" e "Imigrantes igual a crime". Palavras de ordem em evidente contradição com as declarações dos dirigentes do PNR, da Causa Identitária e da própria Frente Nacional, presentes na manifestação, que recusaram ser conotados com atitudes racistas e xenófobas.

"Não somos racistas, como andam aí a dizer, mas não aceitamos que haja ruas de Lisboa onde os portugueses não podem estar em segurança porque estão nas mãos de mafias e de traficantes", afirmava José Pinto Coelho, dirigente do PNR. Garantindo que a manifestação não era convocada pelo seu partido, este designer gráfico, de 44 anos, dava no entanto a cara pe- lo protesto. "Estamos aqui para apoiar esta manifestação da Frente Nacional, da qual estamos próximos", explicava Pinto Coelho. E sublinhava ainda "Temos que reagir à criminalidade. Esta é uma manifestação pacífica e é só o começo. É natural que façamos mais manifestações destas no futuro."

Mário Machado, da Frente Nacional, e um dos organizadores da marcha, foi mais longe. Sem meias palavras, mas recusando a classificação de racista, garantia "Imigração e criminalidade andam quase sempre de mãos dadas e não temos de ter medo de chamar as coisas pelos nomes". Para este dirigente, que reclama o orgulho de ser branco, a solução é só uma. "O Governo tem de expatriar os imigrantes. A nacionalidade herda-se, não se compra." Quanto à criminalidade, o seu movimento "espera que o governo passe a considerar imputáveis os menores a partir dos 12 anos, porque há miúdos dessa idade que andam aí a roubar".

Antes de iniciarem a curta marcha até ao Rossio, os manifestantes - "não só skinheads, deve haver apenas 30 ou 40 no meio de 300 pessoas", dizia Mário Machado - fizeram um minuto de silêncio "pelos portugueses mortos na África do Sul e pelos portugueses que sofrem na linha de Sintra e que têm medo de sair de casa".

Faltavam poucos minutos para as 15.00 quando os manifestantes saíram do Martim Moniz, acompanhados de perto pela polícia.

Aos gritos de "Portugal", empunhando cartazes com as palavras de ordem "Imigração igual a colonização" e "Sampaio na Cova da Moura, portugueses no Martim Moniz" e fazendo a espaços saudações de braço estendido, os manifestantes, homens jovens na maioria, percorreram em poucos minutos a distância entre as duas praças. Foi já no Rossio, onde alguns populares os apelidaram de "fascistas" e gritaram "25 de Abril sempre" que os ânimos começaram a aquecer. Um indivíduo cabo-verdiano chegou a envolver-se numa discussão acesa com alguns manifestantes e só a pronta intervenção policial, que formou uma barreira entre opositores, evitou confrontos.

Questionado sobre o gesto de braço estendido feito várias vezes pelos manifestantes, Pinto Coelho recusou que isso fosse uma saudação nazi. "É uma saudação nacionalista, da Mocidade Portuguesa". Reconheceu, porém, "incómodo" pela situação, porque "vai ser aproveitada pela comunicação social".

No final, o comandante Oliveira Pereira, do Comando Metropolitano da PSP, estava satisfeito. "Correu genericamente bem, não fizemos detenções", afirmou. Sobre a agressão ao repórter fotográfico, desvalorizou-a, justificando a situação pela necessidade de actuação da polícia no momento.

Uma cortesia Diário de Notícias

O que há a dizer sobre isto? Em que País vivemos? Até parece que não existem portugueses espalhados pelo mundo... realmente somos um País de atrasados... de pessoas egoístas e sem escrúpulos... para onde foi a bondade humana... talvez esteja na sanita.



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domingo, junho 12, 2005

lisboaphoto | A Medicina Legal e o grau zero do realismo fotográfico





"Esta exposiçãoo contém imagens susceptíveis de impressionar o espectador", diz o aviso colocado à entrada das duas salas do Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa onde se exibe Corpo Diferenciado. Uma exposição com imagens do acervo do Instituto Nacional de Medicina Legal (INML), que revela o modo como a fotografia foi usada em Portugal, de 1910 a 1947, para constituição de prova judicial ou registo científico de patologias.

"É uma exposição sobre o grau zero do realismo fotográfico, a fotografia ao serviço da reprodução meramente utilitária, sem qualquer pretensão estética", explica Sérgio Mah, comissário-geral da LisboaPhoto, justificando assim a inclusão na bienal destas imagens cruas, bizarras e, até, chocantes (como as de autópsias ou malformações), que integram a colecção da delegação de Lisboa do INML.

As provas de época e impressões por contacto (de negativos de vidro) são o resultado da primeira fase do projecto de investigação e conservação do espólio que o Arquivo Fotogr�fico está a desenvolver, e que inclui registos bem mais violentos do que estes patentes ao público até 20 de Agosto.

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quinta-feira, junho 02, 2005

Défice nacional

Nem tudo vai mal nesta nossa República
(Pelo menos para alguns)

Com as eleições legislativas de 20/Fevereiro, metade dos 230
deputados não
foram eleitos. Os que saíram regressaram às suas anteriores
actividades.
Sem, contudo saírem tristes ou cabisbaixos. Quando terminam as
funções, os
deputados e governantes têm o direito, por Lei (deles) a um subsídio
que
dizem de reintegração:

- um mês de salário (3.449 euros) por cada seis meses de Assembleia
ou
governo.

Desta maneira um deputado que o tenha sido durante um ano recebe dois
salários (6.898 euros). Se o tiver sido durante 10 anos, recebe vinte

salários (68.980 euros). Feitas as contas e os deputados que saíram o

Erário Público desembolsou mais de 2.500.000 euros.

No entanto, há ainda aqueles que têm direito a subvenções vitalícias
ou
pensões de reforma (mesmo que não tenham 60 anos). Estas são
atribuídas
aos titulares de cargos políticos com mais de 12 anos.

Entre os ilustres reformados do Parlamento encontramos figuras como:

- Almeida Santos ......................... 4.400, euros;
- Medeiros Ferreira ....................... 2.800, euros;
- Manuela Aguiar ......................... 2.800, euros;
- Pedro Roseta .............................. 2.800, euros;
- Helena Roseta ............................ 2.800, euros;
- Narana Coissoró ......................... 2.800, euros;
- Álvaro Barreto ............................. 3.500, euros;
-Vieira de Castro ........................... 2.800, euros;
- Leonor Beleza ............................ 2.200, euros;
- Isabel Castro .............................. 2.200, euros;
- José Leitão ................................ 2.400, euros;
- Artur Penedos ............................ 1.800, euros;
- Bagão Félix ............................... 1.800, euros.

Quanto aos ilustres reintegrados, encontramos os seguintes:
- Luís Filipe Pereira ............... 26.890, euros / 9 anos de
serviço;
- Sónia Fortuzinhos .................. 62.000, euros / 9 anos e meio
de
serviço;
- Maria Santos .......................... 62.000, euros /9 anos de
Serviço;


- Paulo Pedroso ....................... 48.000, euros /7 anos e
meio de
serviço;
- David Justino ......................... 38.000, euros /5 anos e
meio de
serviço;
- Ana Benavente ...................... 62.000, euros/9 anos de
serviço;
- Mª Carmo Romão ................... 62.000, euros /9 anos de
serviço;
- Luís Nobre Guedes ............... 62.000, euros/ 9 anos e meio de

serviço.

A maioria dos outros deputados que não regressaram estiveram lá
somente a
última legislatura, isto é, 3 anos, o suficiente para terem recebido
cerca
de 20.000, euros cada.

É assim a nossa República (das bananas) !!!!!!!!!!!!!

É ESTA A CLASSE POLÍTICA QUE TEM A LATA DE PEDIR SACRIFICIOS AOS
PORTUGUESES PARA DEBELAR A CRISE...