quarta-feira, janeiro 24, 2007

"Gosto de acordar porque é lá que tenho a minha vida"

Não sou mais que isto, nem quero mais que isto.

Aquele que cruzou o meu caminho, enquanto vageava só no passeio, transformou-me. Custa-me a acreditar que depois de tudo ainda sinto a pele a estalar depois de todos os momentos desagradáveis. Das frases sem nexo. Sem desculpa. Tantas vezes sem medida. Basta ouvir o seu nome.

- "Gostava de voltar atrás, sabendo tudo o que sei hoje"
,comentei ainda ontem com uma colega de trabalho. Nesse momento, e nos vários que se antecederam, e nos muitos mais que se seguiram, senti um suave arrepio, que me deu um prazer quase orgásmico.

Aquela ansiedade, aquela nostalgia de voltar a ser feliz. De bater com a cabeça novamente, mas desta vez sem lágrimas: com a alegria de saber que ainda nos vamos recordar disto com um sorriso e uma angústia que não nos sai da pele.

Nem dos poros ainda abertos depois da água fervente do banho.

Houve uma certa altura até, em que me lavava quase freneticamente. Queria retirar as lembranças e o cheiro de outros corpos no meu corpo.

Houve também dias em que me tranquei no quarto com um cigarro e um Porto quente, desgostosa com a vida a sentir o charme do fumo sobre a lanterna que iluminava a rua e os cães vadios com cio.

Agora, olho para trás e vejo que fui feliz.

Custa-me a acreditar que houve um tempo perfeito. Em que a felicidade se prendeu com lágrimas e com dor e com angústia e lágrimas e dor e angústia.

A minha transbordou da vasilha como a do Álvaro. E sinto-me estúpida e ridícula.

Custa-me a acreditar que estou velha. Que já deixei de estudar há quase três anos. Que me quero ir embora deste País, desta terra…

Custa-me a acreditar que ainda me lembro de ti…
[frase do título cito. Miguel Manso]

terça-feira, janeiro 16, 2007

...

As Calorias são pequenos animais que vivem nos roupeiros e que durante a noite apertam a roupa das pessoas.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Enquanto houver dias...


Enquanto um vento extraordinariamente azul me gelava a cara.

Enquanto tremia de frio e de medo naquela manhã terrivelmente cinzenta de tristeza.

Tudo me pareceu vazio. O frasco de iogurte com “bifidus activo” matinal, estava vazio. A sandes de queijo, a bolacha Maria sem açúcar da Proalimentar, o café sem açúcar, mas “um pouco de adoçante se faz favor” – estava tudo vazio, oco, sem nada… sem caminho, nem entulho. Sem futuro.

Olhei para o PC e pensei no vazio, e na tristeza que é olhar para um PC, sem pensar que é mentira. É virtual. Tão virtual que tenho de imprimir e-mails, assinar, “veracificar”, para depois arquivar, de modo a que fique tudo verdadeiro e verossível. Do jeito que “Deus quiser”. E o que é que ele quer de mim? Quer que chore? Que doa? Que morra?

Preferia que me fizesse feliz. Afinal, quem não quer qualquer coisinha que o faça feliz?

Felicidade = Amor?

O amor é daqueles sentimentos intransigentes, que se nos assoberbam as artérias e nos fazem cuspir estupidezes.

Isto disse eu, num acto de plena inspiração, a uma vinda da hora de almoço. Afinal de barriga cheia também se pensa. E vejam bem que era cheia de sopa misturada com uma sandes de delícias do mar e uma Cola Light. Com tanta alimentação e tanta proteína o cérebro poderia parar e pensar: “é pá, isto agora é só tratar dos hemócritos e plaquetas, para que transportem a respectiva proteína para o arquivo”.

[aparte – o arquivo é aquela camada superficial de ser que se consegue retirar com uns trocos numa casa de pessoas de plástico conceituada].

Há dias em que a solidão pesa mais que um saco de batatas. Há dias em que a tristeza pesa mais que um saco de azeitonas. Há dias em que o trabalho explode como tremoços e arranha a garganta como 5 kg de chocolate.

Há dias em que me apetecia entrar na não-existência.

Há dias em que não me apetecia acordar.

Para quê abrir os olhos se não há beleza a contemplar?

quinta-feira, janeiro 11, 2007

...

«Neste Quarto Interior tudo pode acontecer. As portas estão abertas e convidam a fugir à realidade. Não é o que tantas vezes desejamos? De dentro para fora é possível sonhar em paz, abrigados. Sonhos simples, puros e luminosos. É um espaço pequeno mas cresce sem limites. Cabemos lá todos!?»
in LeCool

quinta-feira, janeiro 04, 2007

...Conselho de Ano Novo...

«Esperamos que consigas destrancar a portas e atender o telefone antes que ele páre de tocar; oxalá te lembres sempre de fechar a braguilha e que tenhas contigo algum dinheiro para voltar para casa às 5 da manhã. Que possas surpreender-te com o quanto és capaz de fazer, que encontres um reembolso em vez duma conta para pagar naquele envelope castanho, escolhe o garfo da direita para as entradas. Que encontres sempre a resposta certa no momento certo, em vez de uma hora mais tarde. Que possas sempre reparar que não há papel higiénico antes de te sentares na retrete e que nunca peças "tripe" acidentalmente num restaurante fino porque não percebes francês.
Que recebas um presente das mãos de uma criança, seja um molho de flores, um chupa chupa pegajoso, um pequeno sapo verde ou um abraço.»
in LeCool

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Stop

Reparo que os condutores dos autocarros têm a simpática mania de me surpreender.
Ontem lá ia a tonta, de volta da passagem de ano bem regada e de uma noite passada em casa dos pais.

Embebida em Dave Mathews Band, acredito que tenha feito algumas caras estúpidas, de tal maneira que o rapaz que se sentou quase ao meu lado, me olhava com estranheza quando carreguei naquele botão maravilhoso do “Stop”, presente em qualquer autocarro, que nos impede de gritar ao motorista “Pare aí, se faz favor”.

Acendeu-se uma luz. Uma luz que habitualmente transporta a sombra de um novo “STOP”. Mas não. Desta vez, estava lá bem coladinho um papel que dizia “Boas Festas”. Sorri. Achei uma situação muito bem arquitectada. Muito bem conseguida por sinal. Da mesma maneira como colocamos uma flor no tabuleiro do pequeno-almoço do nosso amor quando este se encontra doente. Um toque especial.


Quantos toques especiais destes conseguimos dar ou receber por entre o fumo das cidades? Das incertezas dos bons dias e até dos “felizes anos novos fingidos”?

Só queria uma coisa simples. Uma coisa que me fizesse recordar com um sorriso, já que é tão difícil soltar a gargalhada.

Até agora os motoristas têm-me surpreendido neste sentido.
Gosto de viajar de autocarro para dar o gosto ao sorriso.

E Boas Festas que isto dura até dia 6.