sábado, setembro 30, 2006

A queda "idealística"


Sinto-me em quebra de valores e de ideais.
Sempre apertei contra o peito os meus ideais de esquerda contra aquelas que queriam a monitorização de um mundo de massas. Mas hoje, sinto-me a cair em descrédito. Já não posso concordar com nada do que se diz (por aqueles que se intitulam do partido a que tenho uma certa afinidade) hoje. Não há discurso que eu consiga dizer: “sim, senhor”, seguido de uma grande salva de palmas. Esses, perderam-se no tempo o no espaço e nada são agora mais que mofos livrescos de teorias que ninguém mais acredita, sabe ou quer saber.

Isto parte-me o coração.

O descrédito pela classe política. O deixa-andar constante. A falta de comparência nas mesas de voto… tanta coisa, que me faz bater com a cabeça na parede e evocar como os bolorentos PCP’s: “dêem-me um 25 de Abril e uma Revolução”, para me acalmar o espírito.

O BE fez uma marcha do emprego, que não resolveu coisa nenhuma, sendo motivo de chacota. Não é por aí. Por vezes penso que o BE só existe para mandar uns bitaites de vez em quando e guardar um assento no parlamento.

O Paulo Portas, pelos vistos vai voltar para o CDS, para terminar com os pequenos partidos.

O Manuel Alegre anda às turras com o PS, e agora discutem-se os resultados das presidenciais, para que possa dizer: “toma lá”.

Mais um referendo sobre o aborto, quando toda a gente já sabe a opinião pequenina do povinho.

Os funcionários a sofrer aumentos de descontos, num governo socialista. (isto dentro da ideologia Marxista é um fartote).

Tanta coisa que me provoca um asco enorme. A democracia não foi inventada para ser assim: repleta de politiquices e palavras sem nexo, de propósito para o Zé Povinho se achar “desinteligente”.

A democracia foi inventada em valores de liberdade, fraternidade e igualdade. Onde todos somos irmãos e combatemos juntos o desconforto dos outros. Onde não há melhores nem piores. Sim, há monopólios, não nos podemos desfazer da economia. Mas há que andar para a frente. Olhar sem “óculos de Alcanena”. Para os lados. Afinal a nossa visão atinge os 180º. Porque esmiofrarmos o pequeno, quando podemos ser tão grandes.

Dêem-me um Álvaro Cunhal, que começo a acreditar que não existo.

segunda-feira, setembro 25, 2006

Ninguém é Perfeito a tempo inteiro...

Perdia-me muitas vezes em ti. Pensava que eras perfeito: “e Deus criou a criatura”!. O amor apagava qualquer incerteza, qualquer desleixo da tua parte. A pele guardava aquilo que poderia ser a mais rica de todas as verdades. Afinal, não eras, não és, nem nunca foste tão perfeito como eu julgava. Não respiravas o ar de tristeza embebido em loucura que me fez, secamente, encontrar nos teus braços o resguardo da minha solidão.

Doeu-me. Dói-me sempre, cada vez que dizes que não. Mas a mentira é chuva que me escorre nas veias. Realmente, parece que não consigo viver sem ela. E na verdade, não consigo viver sem ti. Mesmo depois de todos os momentos em que sofri pela tua ausência. Mesmo depois de te ignorar nos meus sentidos, para depois me afogar em paixão.

Tudo isto não faz sentido, simplesmente, porque não existes. Arranha-se-me a alma, como um guarda-chuva deixado por acaso numa sala de cinema. Um esquecimento de algo que nunca foi real aos olhos do povo, ou admissível aos teus. Nunca quiseste acreditar no meu amor e na minha saudade. Nunca acreditaste que por não existires me fazes mais falta ainda. E isso perdeu-se na minha demência por ti. Sim, estou psicótica. Sempre tive o meu quê de louca, mas tu fizeste-me alcançar o delírio da ternura.

Se me abrisses as portas da tua biblioteca e me entregasses de bandeja o mofo dos livros de Kafka, render-me-ia a teus pés. Se encontrasses a timidez de uma sala de estar nos teus olhos enquanto me contemplas, perderias a noção do tempo e do espaço. Perderias o fascínio pelas coisas que já existem e descobririas o brio do fumo do cigarro e a sedução da porta da rua entreaberta. “Sempre uma coisa defronte da outra”.

Por tudo isto, não és perfeito, e não por tudo aquilo que me dizes que não és, oh tu que não existes. E por tudo isto e por muito mais: és perfeito em part-time. De cada vez que, deambulando na minha cabeça, me fazes esquecer o cinzento dos dias nas tuas palavras e me prendes no sorriso da tua presença, aquecendo-me o coração.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Angola! Ah saudade...










Ter feito voluntariado em Angola marcou a minha vida. O meu crescer por dentro. Agora, passados três anos que voltei, sinto umas saudades loucas...
Resolvi deixar-vos um pouco das minhas memórias... porque eu até gosto de partilhar os momentos que me aquecem o coração...






Eu a Catarina (que está lá agora) e a Tany









O momento mais maravilhoso da minha vida.








Alegrias...











Antes de ir dar aulinhas

quinta-feira, setembro 21, 2006

A teoria da Cueca!


Ontem, a Mafa chegou da casa de banho com uma questão existencial da vida de qualquer ser feminino: a roupa interior.
Questão: Porque será que temos a tendência de vestir roupa interior, baseando-nos nas cores da roupa que temos vestida? Será que instintivamente tentamos sempre combinar padrões e cores?
Pois bem, vimo-nos a olhar para as nossas respectivas roupas interiores e a verificar que a teoria estava certa. Camisola rosa, cuecame rosa, casaco verde, cuecame e soutiame verde…
Porque será que fazemos estas associações? Depois de vaguear um pouco sobre o assunto, cheguei a algumas conclusões. Pois então! Combinamos as cores porque:
1. Quando nos baixamos temos a tendência de mostrar um pouco da bela cueca, que salta por fora das calças (quando não é a cueca é aquele início de rabito que não fica nada bem). Imaginem só se tivéssemos umas cuecas amarelas com uma camisola roxa. Não combinava nada. Se a peça de vestuário teima em espreitar o mundo real, que pelo menos coincida com o resto das cores da indumentária. (ainda no outro dia, estava a tola da Bolacha a tentar enfiar uma pen na parte de trás de um computador, e o meu respectivo boxer resolve saltar para fora, mesmo em frente a um rapaz bem jeitoso… vejam que terror seria se não fossem cinzentos e cinzenta a cor da minha camisola).
2. Imaginemos que estamos a fazer o nosso chichi numa casa de banho pública e fechámos mal a porta. De repente entra alguém de rompante e nós de cueca na mão. Concebam a vergonha de mostrar o cuecame fora dos tons, para além de nos terem apanhado com “os figos no cesto”. (infelizmente isto de me apanharem de cueca não mão acontece tanta vez, enfim)
3. Podemos encontrar o homem da nossa vida a qualquer instante. Não cai nada bem, se partirmos para a loucura, despindo sensualmente a camisolita verde se mostramos um soutien vermelho. Out.
4. Nunca sabemos o que nos pode acontecer quando chegamos a casa. Podem agarrar-nos e atar-nos à cama, e se não tivermos o conjuntinho perfeito, o pobre perde a vontade… agora se tiver tudo no sítio… ui…
5. O belo do decote. O decote, mostra sempre um pouco do soutien, nem que seja quando nos baixamos para apanhar qualquer coisa do chão e timidamente colocamos a mão sobre o peito, na esperança de tapar algo.
6. Finalmente temos o factor vento. A saia tem essa mania. Então tenho uma saia preta que vem um ventinho e eu mais pareço a Marylin Monroe. Uma pessoa bem tenta baixar, mas só apetece fazer Pu Pu Pi tu... lol.
Afinal, mais parece que não é tão despropositado… a mente feminina é muito à frente...

terça-feira, setembro 19, 2006

"Viver todos os dias cansa"


Não posso deixar que o meu estimado blog passe ao lado das minhas segundas-feiras de manhã.

As segundas feiras de manhã são tão cheias para mim, que eu chego sempre com mil histórias para contar, que fazem o sorriso de uns e o escárnio de outros.

Para quem não sabe, passo sempre os meus fins-de-semana, na minha vila natal: Batalha. Moro, durante a semana, em Leiria, onde trabalho arduamente e depois, lá vai a tola, descansar para a terriola…

Para voltar a Leiria tenho de apanhar o autocarro das oito da matina… Um autocarro que vai sempre tão cheio que mal tenho espaço para encontrar um lugar no meio de tantas vidas…

Esta segunda-feira em especial, tive vários pensamentos literários sobre a minha vida nas manhãs deste dia semanal. E decidi regista-los.

Acordei às sete e um quarto com o ralhar da minha mãe: “Cathy, ainda estás a dormir? Vais a pé que eu já estou atrasada!”

Ensonada lá vesti a roupa guardada do dia anterior. Mecanicamente arrumei o resto do saco, e lá fui estrada abaixo até à paragem (e vejam que não é nada perto!).
De saltos, como estava, cheguei à paragem com os pés a latejar (previsível, mas não posso ir de sapatilhas para o trabalho, infelizmente), sem esquecer da dor arrecadada no ombro devido ao peso do saco, e ainda um presente que tinha feito, que, embrulhado em papel de jornal, chamou a atenção dos presentes…pormenores…


Estava lá toda a gente do costume. A mãe de uma ex-melhor amiga minha, a senhora que trabalha no refeitório da ESSE, o rapaz que segue no Expresso para Lisboa (que todas os dias, ao entrar no seu autocarro, me lança um adeus tímido), as três ucranianas, e agora uma enchurrada de adolescentes estúpidos que falam estupidamente dos colegas que entraram na universidade.

Detesto adolescentes. Todos vestidos numa mescla de Floribela com Morangos com Açúcar, que me enoja. Quando chegou o autocarro que os levou para o seu respectivo zoológico, respirei de alívio…

O meu autocarro atrasou-se 10min, e depois lá veio. Atafulhado de gente e com mais uns tantos para entrar. Ainda por cima parece que escolhem o autocarro mais velho e degradante a dedo.

Bem, lá entro com o meu saco (que não posso colocar no porta bagagens, pois este encontra-se demasiado porco e repleto de buracos para levar alguma coisa), com o presente e com os meus 1,67m, procurando um lugar, enquanto pagava e o motorista olhava descaradamente para o meu decote. Foi difícil encontrar lugar. Sentei-me, com toda a minha bagagem no colo e prossegui viagem.

Como estava muita gente e o bus não tinha vidros, os cheiros e os hálitos misturam-se, transformando-se num odor, não muito agradável. Tento arranjar o meu casaco de modo a sentir apenas o meu perfume. O meu CKone cheira bem melhor.

A certa altura, perto da Azóia, chegam algumas senhoras de meia idade, que conseguiram encontrar um lugar sentado. Excepto uma.
Eis senão quando, por mais incrível que pareça, um senhor levanta-se, amigavelmente cede-lhe o seu lugar e coloca-se junto à porta, de pé.
Para além da minha perplexidade em relação à situação (há anos que não via isto acontecer), fiquei embevecida com o civismo daquele homem. Aquela boa educação que me encheu olhar e o coração. Um gesto tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão belo…

Como o senhor teve a gentileza de me chamar a atenção pela positiva, tive tempo de o olhar. Devia ter uns 32 anos. Era bem engraçado, por sinal. Alto, bastante magro, com um cabelo encaracolado e uma expressão muito calma no rosto. Fiquei ali, a contemplá-lo, no meu lugarzito, como já não o fazia há muito. Contemplei-o pelo civismo que lhe transbordava nas têmporas…Assim embevecida, lancei un coup d’oeil sobre as suas mãos. Que triste. Tinha umas mãos muito feias. Pena! E logo eu que dou tanta importância a esta parte do corpo masculino…
Perdida nos meus pensamentos, acorda-me a colega do lado, a pedir-me para me levantar, pois ela iria sair na próxima paragem. E o saco, o presente, a minha mala a tiracolo. Uma confusão. Demorei algum tempo a voltar à posição inicial… tanto que quando já estava pronta, reparei que o Senhor Boa-Educação, tinha saído. Fiquei triste. Tinha-me feito sorrir, logo de manhã. O que não é nada normal. Acordo sempre mal disposta, tanto que só consigo comer uma hora depois de estar de pé.

Sem nada para me perder, releio as páginas do jornal que embrulham o meu presente e espero a minha paragem.

Quando saí, nem tive tempo de ir tomar um cafezito no café pertinho da paragem. Faltavam 15min para as nove (hora do pica-ponto) e tinha, ainda, de ir a pé, até casa com a tralha toda…

As minhas segundas-feiras de manhã têm sempre histórias diferentes. É importante para mim registar apenas uma. Para que não se percam no tempo… como eu um dia me perderei… ficarão as palavras, enquanto o servidor não for abaixo…

Dêem-me segundas-feiras, que preciso de um Domingo na minha vida!

sexta-feira, setembro 15, 2006

Recicla-me!

Realmente, preciso de uma reciclagem... quem me dera que nos pudessemos reciclar... retirar tudo o que era velho e transformá-lo em coisas completamente novas e interessantes... seria uma ideia brilhante...
Tenho o cérebro atafulhado do lixo dos sentimentos...

Deêm-me ideias, que não consigo pensar...

quinta-feira, setembro 14, 2006

Enterrei-me

See you in another life...
Adenda: Para que conste, eu não fechei o meu blog... é só um estado de espírito!

Com a vida escarrapachada na net!


Alguém já experimentou em escrever o nome no google, por exemplo, para ver o que aparecia? Acho que todos tivémos esse bichinho. Não é que ontem experimentei o meu, e surgiram-me um sem número de páginas que eu desconhecia. Desde o meu maravilhoso blog, aos estágios a que concorri... é algo transcendental o facto de como a internet, por vezes, sabe mais da nossa vida que nós.
Vá experimenta lá: google

quarta-feira, setembro 13, 2006

O ódio é um excelente tira-nódoas para o sofrimento.


Quando a dor se me engasga na garganta, não consigo olhar o espelho.
Os sentimentos deveriam ser como os pratos: arrumados nas suas respectivas prateleiras. Sujávamo-los, lavamo-los e voltávamos a coloca-los no lugar, até que um dia precisássemos deles outra vez. É uma chatice não ser assim. Porque nem os sentimentos se arrumam, nem nós os retiramos dos devidos lugares apenas quando queremos.
O que sentimos está mais que desarrumado. Mais que sujo. Nunca dá um sinal da sua vinda.
Julgo que se, antes de os sentimentos nos arrebatarem, se batessem à porta ou enviassem uma SMS, que dissesse:

- cucu, daqui a duas semanas vais sofrer com o sentimento “dor” e amar perdidamente com o sentimento “paixão”!

… seria tão bom! Seria tão fácil precaver o coração, que mal precisaríamos das lágrimas para o colar quando se quebrasse.

Alguém um dia me disse (penso que até foi o meu querido Eduardo Sá) que “as nossas dores muito profundas acendem um semáforo que nos protege”.
Sinto que não é bem verdade, ou então as minhas dores são teimosas como o raio, porque não me andam a proteger nada! Até parece que o semáforo está sempre verde para entrar mais uma, e depois mais outra…
Se ao menos eu me conseguisse esquecer num copo de Porto quente, ou abraçar-me no frio de um Martini “sem gelo, por favor”?

Gostava de beber a vida de uma golada só. Não ter de pensar naquilo que os outros sentem, pensam ou dizem. Não ter de tomar todas as decisões, de tomar conta de todas as pessoas. Ainda não fui mãe, e já me sinto responsável pelo asco e pelos problemas da Humanidade.

Apetecia-me estar sozinha. Ultrapassar esta dor sozinha. Porque assim, poderia estar à vontade, sem me perguntarem nada.

Gostava de adormecer de uma vez para sempre.
Gostava de odiar de uma vez para sempre.
Gostava de estar contigo de uma vez para sempre.
Como não estou. Dói-me. E se me dói, odeio-te. Só odiando-te eu apago a minha dor, e sou feliz!

“Não quero viver
sem ti
mais nenhum tempo
nem sequer um segundo
sem sono
Encostar-me toda a ti
Eu não invento
Tu és a minha vida o tempo todo”
Maria Teresa Horta
(bonitinho este poemito, não é? Não tem nada a ver com o post, mas penso isso não interessar para o caso, eh eh eh)

sexta-feira, setembro 08, 2006

Down!













Sinto-me a ir pelo cano abaixo... bem juntinho à podridão do Ser... quero fechar os olhos e esquecer que existo...

Deixem-me dormir, que não tenho sono!

terça-feira, setembro 05, 2006

Sonho. Não sei quem sou.

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me.
Na hora calma Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber.

Se acordo Parece que erro.
Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,

Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa - Cancioneiro

Lali Puna

Micronomic



Os Lali Puna caíram no meu colo num acaso. Eu tinha pedido, durante uma aula, a uma amiga (a Mafa) todos os CDs de Sigur Rós que ela tinha para eu gravar em casa. Ela tinha-os dentro de um porta-cds, onde estavam mais CDs que o namorado lhe tinha gravado e emprestou-me aquilo tudo...
Cheguei e casa e pus-me a ouvir. Gostei de alguns. Não gostei de outros tantos. Amei dois CDs que ela tinha: um estava identificado como Arto Lyndsay, outro não tinha nada...
Continuei a ouvir e quase a decorar as letras das músicas, mesmo sem saber que raio era aquilo! Até que um dia, em conversa lembrei-me de perguntar: "oh Spooky que CD era aquele que não tinha nome?" E ele respodeu-me "Lali Puna".
Prontamente apontei esse nome num papel que se encontrava na minha bolsa dos lápis e nunca mais o esqueci.
Agora os Lali Puna fazem parte da minha vida, como os elásticos servem para prender cabelo... Electrónica, misturada com paixão, futurismo, vanguardismo e música experimental... para além de umas letras fantásticas... recomendo!
Deixo-vos o Micronomic, do último álbum "Faking the Books"! Deliciem-se...
Mais em Lali Puna

segunda-feira, setembro 04, 2006

Diariamente...


Todos nós, a certa altura das nossas vidas, tivémos um diário. Davamos-lhe um nome, ou simplesmente escrevíamos "Querido Diário".
Escrever acalmava...
Parecia que registávamos os nossos pensamentos em páginas soltas, que se fechavam com um cadeado, cuja chave estava bem presa ao coração.
Quando alguém descobria a chave, ou arrombava a fechadura dos nossos segredos, o mundo parecia desmoronar-se. Era como se alguém tivesse traído a nossa confiança.
Fazia doer tanto.
Eu sempre gostei de enfiar a cabeça na areia nos problemas do coração. Quando o coração começava a arranhar, e eu a sonhar, a sonhar... voava... esquecia-me de tudo e de todos. Nada mais interessava.
Nessas alturas era sempre eu que dava a chave para abrirem os meus segredos, e quando tudo terminava (tanto a amizade como o amor), eu pedia sempre a chave de volta:
- Dá-me a chave dos segredos do meu coração para que ele deixe de arranhar por ti!
E assim foi.
Sentia que doía um bocadinho. Até porque as feridas que se curam com betadine demoram um pouco a sarar. Mas eu sempre gostei de chorar. De me trancar. De me isolar do Mundo. Só um bocadinho.
E agora?
Nunca me tinha acontecido, mas roubaram-me a chave e arrombaram-me a fechadura.
Como é que peço a chave de volta e arranjo a fechadura?
E se eu não quiser nem arranjar a fechadura, nem a chave de volta?
Deixo que me doa?
Deixo que me continue a fazer feliz?
Pisco o olho ao chaveiro, e vou fingindo que não tenho a chave... e continuo a sonhar...
Deixem-me voar, que tenho medo de alturas...