terça-feira, novembro 01, 2005

Apaixonada por Sigur Rós

Quem ouve... sente uma indiscritível sensação de liberdade. Não aquela liberdade que vem nos livros, que fala de direitos e deveres. Uma liberdade de paixões, liberdade de amor, de todas as coisas que nos amarram às amarguras e tristezas. Eu, pelo menos, sinto uma vontade imensa de vomitar cá para fora tudo o que de bom e mau me passa pelas entranhas. As vísceras enchem-se de vontade de criar só mais um sorriso, acompanhado de um copo de vinho do Porto quente, que escorrega pela garganta. Suave, mas ao mesmo tempo ácido. Queima.

A grande parte dos álbuns que Sigur que tenho, nem têm títulos, nem nomes de músicas. Às vezes nem isso é preciso. É só preciso sentir. E sente-se bastante. Até parece inacreditável, como uma música, da qual eu nem percebo nada, me toca tanto. No fundo da alma. Da minha energia. Do meu poder. Deixa-me de rastos.

Ainda me lembro quando me enfiava no meu quarto a ouvir o aegatis (deste eu sei o nome), a sentir pena de mim mesma e a lembrar-me da minha liberdade infantil, quando tudo era enorme e desconhecido. Quando olhava para a mais pequena coisa e apenas isso me fascinava. Quando mergulhava no paraíso de se ser feliz e só contava comigo. E com mais uns cerca de 300 caracóis que eu aperfilhava para fazer corridas, na varanda de uma casa que já nem é minha. Que hoje se esconde por entre as silvas.

Será que a minha energia ficou marcada naquelas paredes? Será que é possivel ser-se tão simplesmente feliz, como eu fui. Rodeada de cães e gatos.

Até me recordo de um que só vinha a casa de quinze em quinze dias, para se alimentar. Era preto e branco e tinha a ponta do rabo branca. Uma coisa bonita de se ver, pois então. Devia ser o engatatão lá da zona. Vinha sempre magro. Esquelético mesmo. Comia. Dormia. (Coisas que nenhum gato faz - risos) E depois de restabelecido voltava à vida mundana. Chegou um dia em que ele nunca mais apareceu. Fiquei sempre a pensar que foi porque encontrou a gata da vida dele. Mas ao que parece não foi bem isso.

É destas coisas que me lembro. Estórias recortadas aqui e ali, que me fazem reviver. Nascer de novo. Algumas fazem-me mesmo chorar. Mas o que é que isso interessa? Desde que continue a viver? A amar? E a sentir só mais um pouco desta fragilidade de ser Cátia (esse nome mais estúpido).

Fragilidade. É isso mesmo que Sigur me faz sentir. A mulher frágil com mais coragem do mundo.

3 comentários:

Anónimo disse...

Queria apenas dizer que como tu tb eu sou um fã de Sigur Ros e adorei o que escreveste. Foi ao concerto que deram no Porto e foi o melhor concerto que vi até hoje.

O que é bom não necessita como tu disses-te de nome ou qualquer outra coisa. Tal como a vida apenas necessita de ser sentida e vivida.

Parabens por me fazeres viajar na tua escrita

Anónimo disse...

Para quem, como eu, nao conhece os Sigur Ros: deiam um saltinho a http://www.sigur-ros.co.uk/media/index.php . E oucam.

Anónimo disse...

bem.... eu estou numa cidade mesmo propicia para ouvir estes seres... Veneza! bonito tudo o que escreveste e verdade tambem. eu quando nao tenho sono pego no meu leitor de mp3 e começo a caminhar pelas ruas tortuosas de veneza... que sensaçao. primeiro porque nao se ve ninguem a partir da 1 da manha e depois todo aquele misterio que a cidade transporta sinto_a a dobrar nas suas musicas.... na nostalgia que transporta pela tao amada natureza mae que parece estar a revoltar_se e querer abandonarnos....