terça-feira, abril 11, 2006

Fernandito do meu coração...

"…Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um
mundo fictício,
de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram.
(Não sei, bem
entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não
existo. Nestas
coisas, como em todas, não devemos ser dogmáticos.) Desde que
me conheço
como
sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar
mentalmente, em
figura,
movimentos, carácter e história, várias figuras
irreais que eram
para mim tão
visíveis e minhas como as coisas daquilo a
que chamamos,
porventura
abusivamente, a vida-real. Esta tendência, que
me vem desde que
me lembro de ser
um eu, tem me acompanhado sempre,
mudando um pouco o tipo
de música com que me
encanta, mas não alterando
nunca a sua maneira de
encantar."
Fernando Pessoa maravilha-nos com a simplicidade onírica e complexa. Amo cada palavra e bebo cada verso como se fosse meu. Quem nunca teve amigos imaginários em criança. momentos de alegria, onde o tempo parava e nós éramos o centro do Universo. Não precisávamos de outros. Éramos nós e os outros ao mesmo tempo.
Lembro-me de ser criança e de brincar horas a fio sozinha. Ou era professora e dava grandes enxertos de porrada às minhas alunas e alunos... ou era recepcionista e atendia e preenchia formulários de números infindáveis de pessoas.
Lembro-me também de juntar todos os jornais e revistas velhas e fingir que os vendia numa banca improvisada na parte de trás da minha casa... era tudo tão perfeito... não havia discussões, ideias diferentes, tristezas... nada... só havia a alegria de estar só e de estar com um conjunto de pessoas ao mesmo tempo, que não eram nada mais, nada menos que eu...
Hoje, não me dói ter de me relaccionar com os outros. Mas sinto falta dos meus momentos... muitas vezes finjo também estar a falar com alguém, mas sei e sinto que tudo é fruto da minha imaginação. Já não faz parte da realidade como fazia... e fico um pouco triste... todos nós desejamos ser felizes... mas se não somos felizes sozinhos, e se acompanhados muito menos o somos... entramos numa ambiguidade de sentidos e dores impossíveis de aguentar.
Devo tomar qualquer coisa ou suicidar-me? Não: vou
existir. Arre! vou existir. E-xis-tir... E-xis-tir... Dêem-me de beber, que
não
tenho sede!

3 comentários:

Butterfly disse...

Tens toda a razão, e eu assino em baixo...

hole in my vein disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Faneca [de má raça] disse...

Isso era interessante camarada " hole in my vein"... quem é que te fazia perguntas... eram sobre o k? K giro... beijocas é bom saber que gostam do meu blogzito