segunda-feira, janeiro 15, 2007

Enquanto houver dias...


Enquanto um vento extraordinariamente azul me gelava a cara.

Enquanto tremia de frio e de medo naquela manhã terrivelmente cinzenta de tristeza.

Tudo me pareceu vazio. O frasco de iogurte com “bifidus activo” matinal, estava vazio. A sandes de queijo, a bolacha Maria sem açúcar da Proalimentar, o café sem açúcar, mas “um pouco de adoçante se faz favor” – estava tudo vazio, oco, sem nada… sem caminho, nem entulho. Sem futuro.

Olhei para o PC e pensei no vazio, e na tristeza que é olhar para um PC, sem pensar que é mentira. É virtual. Tão virtual que tenho de imprimir e-mails, assinar, “veracificar”, para depois arquivar, de modo a que fique tudo verdadeiro e verossível. Do jeito que “Deus quiser”. E o que é que ele quer de mim? Quer que chore? Que doa? Que morra?

Preferia que me fizesse feliz. Afinal, quem não quer qualquer coisinha que o faça feliz?

Felicidade = Amor?

O amor é daqueles sentimentos intransigentes, que se nos assoberbam as artérias e nos fazem cuspir estupidezes.

Isto disse eu, num acto de plena inspiração, a uma vinda da hora de almoço. Afinal de barriga cheia também se pensa. E vejam bem que era cheia de sopa misturada com uma sandes de delícias do mar e uma Cola Light. Com tanta alimentação e tanta proteína o cérebro poderia parar e pensar: “é pá, isto agora é só tratar dos hemócritos e plaquetas, para que transportem a respectiva proteína para o arquivo”.

[aparte – o arquivo é aquela camada superficial de ser que se consegue retirar com uns trocos numa casa de pessoas de plástico conceituada].

Há dias em que a solidão pesa mais que um saco de batatas. Há dias em que a tristeza pesa mais que um saco de azeitonas. Há dias em que o trabalho explode como tremoços e arranha a garganta como 5 kg de chocolate.

Há dias em que me apetecia entrar na não-existência.

Há dias em que não me apetecia acordar.

Para quê abrir os olhos se não há beleza a contemplar?

5 comentários:

hole in my vein disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Alien David Sousa disse...

Todos temos dias desses. Não estás sozinha nesse barco. Nesses dias só quero que me deixem em paz e falem só o essencial comigo. Depois passa.
bjs

1/2Kg de Broa disse...

Haver há, mas a beleza é um estado de espírito...

Oxalá disse...

Sabes, eu acho que és uma pessoa muito querida por dentro, que está sempre insatisfeita com a vida e de certa forma goza o facto de ser um pouquinho infeliz... Estarás sempre à procura de mais e mais... porque simplesmente não consegues aceitar a vida como ela cai nas tuas mãos.. queres lutar e gostas disso. E isso faz de ti uma pessoa muito especial, com a garra que tens! Portanto.. de facto a beleza é um estado de espírito, concordo! Agora tens que ver que o teu espírito é inquieto e exigente!! Como dizia o outro «viver todos os dias cansa», uns mais que outros... Mas tudo passa...

Beijo grande

Anónimo disse...

Não há beleza a contemplar ?

Se souberes "olhar" para ti verás toda a beleza que procuras :0)...

Fica em paz Bolacha...