quarta-feira, setembro 13, 2006

O ódio é um excelente tira-nódoas para o sofrimento.


Quando a dor se me engasga na garganta, não consigo olhar o espelho.
Os sentimentos deveriam ser como os pratos: arrumados nas suas respectivas prateleiras. Sujávamo-los, lavamo-los e voltávamos a coloca-los no lugar, até que um dia precisássemos deles outra vez. É uma chatice não ser assim. Porque nem os sentimentos se arrumam, nem nós os retiramos dos devidos lugares apenas quando queremos.
O que sentimos está mais que desarrumado. Mais que sujo. Nunca dá um sinal da sua vinda.
Julgo que se, antes de os sentimentos nos arrebatarem, se batessem à porta ou enviassem uma SMS, que dissesse:

- cucu, daqui a duas semanas vais sofrer com o sentimento “dor” e amar perdidamente com o sentimento “paixão”!

… seria tão bom! Seria tão fácil precaver o coração, que mal precisaríamos das lágrimas para o colar quando se quebrasse.

Alguém um dia me disse (penso que até foi o meu querido Eduardo Sá) que “as nossas dores muito profundas acendem um semáforo que nos protege”.
Sinto que não é bem verdade, ou então as minhas dores são teimosas como o raio, porque não me andam a proteger nada! Até parece que o semáforo está sempre verde para entrar mais uma, e depois mais outra…
Se ao menos eu me conseguisse esquecer num copo de Porto quente, ou abraçar-me no frio de um Martini “sem gelo, por favor”?

Gostava de beber a vida de uma golada só. Não ter de pensar naquilo que os outros sentem, pensam ou dizem. Não ter de tomar todas as decisões, de tomar conta de todas as pessoas. Ainda não fui mãe, e já me sinto responsável pelo asco e pelos problemas da Humanidade.

Apetecia-me estar sozinha. Ultrapassar esta dor sozinha. Porque assim, poderia estar à vontade, sem me perguntarem nada.

Gostava de adormecer de uma vez para sempre.
Gostava de odiar de uma vez para sempre.
Gostava de estar contigo de uma vez para sempre.
Como não estou. Dói-me. E se me dói, odeio-te. Só odiando-te eu apago a minha dor, e sou feliz!

“Não quero viver
sem ti
mais nenhum tempo
nem sequer um segundo
sem sono
Encostar-me toda a ti
Eu não invento
Tu és a minha vida o tempo todo”
Maria Teresa Horta
(bonitinho este poemito, não é? Não tem nada a ver com o post, mas penso isso não interessar para o caso, eh eh eh)

6 comentários:

António Ferro disse...

Olá.

Compreendo onde queres chegar. No entanto discordo.

O ódio é alimentado pelo sofrimento, da mesma forma que o amor é alimentado pela alegria.

Ou seja, é consequência, e não alternativa.

Deixa-o circular, tornar as tuas veias negras, a tua expressão sisuda. Mas não o deixes tomar conta. Não cedas. A seu tempo, e com o motivo certo, ele murcha, seca, e cai, como uma rosa negra.

Peço desculpa por intrometer. Beijos.

Faneca [de má raça] disse...

intromete-te quando quiseres... beijoca

Alien David Sousa disse...

Cátia, uma coisa ninguém te pode tirar. Podes estar a sofrer, mas tens sentido de humor:

" cucu, daqui a duas semanas vais sofrer com o sentimento “dor” e amar perdidamente com o sentimento “paixão”!"

Um beijão

Alien David Sousa disse...

Subscrevo o meu mais recente ( CHATO) amigo monarca.
bjs

António Ferro disse...

Sim, eu sou chato :)

Beijos e levanta o queixo!

hole in my vein disse...
Este comentário foi removido pelo autor.