terça-feira, setembro 19, 2006

"Viver todos os dias cansa"


Não posso deixar que o meu estimado blog passe ao lado das minhas segundas-feiras de manhã.

As segundas feiras de manhã são tão cheias para mim, que eu chego sempre com mil histórias para contar, que fazem o sorriso de uns e o escárnio de outros.

Para quem não sabe, passo sempre os meus fins-de-semana, na minha vila natal: Batalha. Moro, durante a semana, em Leiria, onde trabalho arduamente e depois, lá vai a tola, descansar para a terriola…

Para voltar a Leiria tenho de apanhar o autocarro das oito da matina… Um autocarro que vai sempre tão cheio que mal tenho espaço para encontrar um lugar no meio de tantas vidas…

Esta segunda-feira em especial, tive vários pensamentos literários sobre a minha vida nas manhãs deste dia semanal. E decidi regista-los.

Acordei às sete e um quarto com o ralhar da minha mãe: “Cathy, ainda estás a dormir? Vais a pé que eu já estou atrasada!”

Ensonada lá vesti a roupa guardada do dia anterior. Mecanicamente arrumei o resto do saco, e lá fui estrada abaixo até à paragem (e vejam que não é nada perto!).
De saltos, como estava, cheguei à paragem com os pés a latejar (previsível, mas não posso ir de sapatilhas para o trabalho, infelizmente), sem esquecer da dor arrecadada no ombro devido ao peso do saco, e ainda um presente que tinha feito, que, embrulhado em papel de jornal, chamou a atenção dos presentes…pormenores…


Estava lá toda a gente do costume. A mãe de uma ex-melhor amiga minha, a senhora que trabalha no refeitório da ESSE, o rapaz que segue no Expresso para Lisboa (que todas os dias, ao entrar no seu autocarro, me lança um adeus tímido), as três ucranianas, e agora uma enchurrada de adolescentes estúpidos que falam estupidamente dos colegas que entraram na universidade.

Detesto adolescentes. Todos vestidos numa mescla de Floribela com Morangos com Açúcar, que me enoja. Quando chegou o autocarro que os levou para o seu respectivo zoológico, respirei de alívio…

O meu autocarro atrasou-se 10min, e depois lá veio. Atafulhado de gente e com mais uns tantos para entrar. Ainda por cima parece que escolhem o autocarro mais velho e degradante a dedo.

Bem, lá entro com o meu saco (que não posso colocar no porta bagagens, pois este encontra-se demasiado porco e repleto de buracos para levar alguma coisa), com o presente e com os meus 1,67m, procurando um lugar, enquanto pagava e o motorista olhava descaradamente para o meu decote. Foi difícil encontrar lugar. Sentei-me, com toda a minha bagagem no colo e prossegui viagem.

Como estava muita gente e o bus não tinha vidros, os cheiros e os hálitos misturam-se, transformando-se num odor, não muito agradável. Tento arranjar o meu casaco de modo a sentir apenas o meu perfume. O meu CKone cheira bem melhor.

A certa altura, perto da Azóia, chegam algumas senhoras de meia idade, que conseguiram encontrar um lugar sentado. Excepto uma.
Eis senão quando, por mais incrível que pareça, um senhor levanta-se, amigavelmente cede-lhe o seu lugar e coloca-se junto à porta, de pé.
Para além da minha perplexidade em relação à situação (há anos que não via isto acontecer), fiquei embevecida com o civismo daquele homem. Aquela boa educação que me encheu olhar e o coração. Um gesto tão pequeno e, ao mesmo tempo, tão belo…

Como o senhor teve a gentileza de me chamar a atenção pela positiva, tive tempo de o olhar. Devia ter uns 32 anos. Era bem engraçado, por sinal. Alto, bastante magro, com um cabelo encaracolado e uma expressão muito calma no rosto. Fiquei ali, a contemplá-lo, no meu lugarzito, como já não o fazia há muito. Contemplei-o pelo civismo que lhe transbordava nas têmporas…Assim embevecida, lancei un coup d’oeil sobre as suas mãos. Que triste. Tinha umas mãos muito feias. Pena! E logo eu que dou tanta importância a esta parte do corpo masculino…
Perdida nos meus pensamentos, acorda-me a colega do lado, a pedir-me para me levantar, pois ela iria sair na próxima paragem. E o saco, o presente, a minha mala a tiracolo. Uma confusão. Demorei algum tempo a voltar à posição inicial… tanto que quando já estava pronta, reparei que o Senhor Boa-Educação, tinha saído. Fiquei triste. Tinha-me feito sorrir, logo de manhã. O que não é nada normal. Acordo sempre mal disposta, tanto que só consigo comer uma hora depois de estar de pé.

Sem nada para me perder, releio as páginas do jornal que embrulham o meu presente e espero a minha paragem.

Quando saí, nem tive tempo de ir tomar um cafezito no café pertinho da paragem. Faltavam 15min para as nove (hora do pica-ponto) e tinha, ainda, de ir a pé, até casa com a tralha toda…

As minhas segundas-feiras de manhã têm sempre histórias diferentes. É importante para mim registar apenas uma. Para que não se percam no tempo… como eu um dia me perderei… ficarão as palavras, enquanto o servidor não for abaixo…

Dêem-me segundas-feiras, que preciso de um Domingo na minha vida!

5 comentários:

Noa disse...

Gostei de passar por aqui e voltarei
:o)

hole in my vein disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
António Ferro disse...

E o decote chama a atenção.
É só "fremusura"!

Casemiro dos Plásticos disse...

eu odeio as segundas feiras... bah é sempre o inicio de trabalho...

ups ia enganando-me no post a comentar lol
beijo

ita disse...

É giro como pequenos nadas nos fazem sorrir.