domingo, abril 06, 2008

As minhas imagens...

Na antiguidade, não muito antiga, acreditava-se que, ao tirar uma fotografia, era retirada a alma da pessoa fotografada e guardada naquela caixinha mágica. E depois de morta? Depois de morta a pessoa era fotografada, para ser sempre recordada. Talvez por isso fotografei esta tarde o cemitério da minha vila sob o olhar reprovador dos circulantes.

Não é difícil tentar perceber esta mentalidade – a de ser perder a alma numa fotografia. Muitas vezes, quando fotografo, tento retirar o máximo da alma da cena ou do objecto, e guardá-la nos meus 10 milhões de pixels. Depois, quando posso, imprimo. E olho para a minha obra.

Gosto de pegar na fotografia e aplicar-lhe texturas e mesmo cores. E depois de impressa gosto de trabalhar ainda sobre ela, com tinta de óleo e mesmo um pastel, quer seja de óleo, quer seja compacto.

As imagens nunca ficam estáticas. Se bem que existem imagens que não ouso tocar. A imagem da minha infância feliz, e mesmo a imagem da minha sofrida adolescência ficaram retidas de tal forma, que não há pincel ou borracha que tente apagar ou colorir os momentos menos bons. Quem me conhece, e mesmo quem me lê, sabe que sou uma louca agarrada ao passado. Por mais que me tente distanciar é sobre ele que reflicto de todas as vezes que, sentada na varanda da minha casa, tento imaginar uma história nova.

Apesar de tudo, também não me consigo distanciar das emoções. Daqueles momentos fugazes. Daquele bater forte do coração. É mesmo verdade. Não suporto imagens estáticas e rotinas e palavras iguais e sorrisos cor de laranja. Não suporto ter de olhar para as minhas imagens e chorar sobre elas como se fosse leite derramado. Não suporto acreditar que “amanhã será melhor” ou no “happily ever after” Não há futuro quando não existe amor guardado em pacotes de batatas fritas. Não há saudade que não negue uma lágrima de nostalgia.

Sinto um desconforto brutal por não ser feliz. Sinto-me incompleta. Sei que seria feliz se fugisse daqui. Mas para onde? Fugir fugiria, no entanto as imagens ficariam para sempre comigo. Não há quem apague as fotos tiradas pelos olhos da memória. Não há quem apague esta bola de dor entre os meus pulmões. Não há que me segure ao colo, e afague os cabelos húmidos e me diga “quero-te”. Não há? Talvez haja, eu é que não quero ver porque só penso em fugir.
Foto// S. Pedro de Moel, at 03/04/08, end of the day

1 comentário:

hole in my vein disse...
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