sábado, julho 01, 2006

O Branco...



Espero,

Espero ainda...

Tanta coisa, efemérides, datas,

Marcadas em agenda

Espero poder olhar-te

de uma só vez e para sempre

Espero as tuas mãos, dedos, as unhas

que arrancam pedaços de pele

E ficam para sempre

Numa espécie de caixa que guarda o ADN

Numa espécie de corrente sanguínea

que me corre, não nas veias

mas nos poros

Numa espécie de respiração, transpiração

Num bocejo e suspiro que chama a saudade.

Os olhos prendem-se nos braços de quem ama.

Eu ainda chamo

Ainda grito por socorro, por

"só mais uma vez"

Mais um toque.

Não no telefone, que é tão banal.

No toque ritmado cardíaco.

Na veia aorta, no ventrículo esquerdo.

Espero, e o tempo parece parar.

Não me deixa dar o passo em frente no abismo

e me perder.

Nunca me sinto perdida.

E isso também me dói um pouco.

Gostava de ter menos certezas, mais inseguranças.

Menos prazer e mais angústia.

Mais vómito e menos sonhos.

Os meus sonhos estão perdidos.

Ainda espero, também, encontrá-los.

Perdidos nas minhas telas ainda por pintar.

E o branco apavora-me.

Afinal, espero.

Espero o branco

e a limpeza, a segurança eférmera,

o claro do sol quando nem

consigo abrir os olhos numa de

Junho, a caminho do trabalho....

CátiaBISCAIA

1 comentário:

poca disse...

"Gostava de ter menos certezas, mais inseguranças"

nunca ninguém TEM certeza de nada (a não ser da morte)

as certezas não passam de pretensões disfarçadas de ilusões!

e a segurança está em sentir-se seguro no caminhar, ainda que no escuro...e sem rumo...