Espero,
Espero ainda...
Tanta coisa, efemérides, datas,
Marcadas em agenda
Espero poder olhar-te
de uma só vez e para sempre
Espero as tuas mãos, dedos, as unhas
que arrancam pedaços de pele
E ficam para sempre
Numa espécie de caixa que guarda o ADN
Numa espécie de corrente sanguínea
que me corre, não nas veias
mas nos poros
Numa espécie de respiração, transpiração
Num bocejo e suspiro que chama a saudade.
Os olhos prendem-se nos braços de quem ama.
Eu ainda chamo
Ainda grito por socorro, por
"só mais uma vez"
Mais um toque.
Não no telefone, que é tão banal.
No toque ritmado cardíaco.
Na veia aorta, no ventrículo esquerdo.
Espero, e o tempo parece parar.
Não me deixa dar o passo em frente no abismo
e me perder.
Nunca me sinto perdida.
E isso também me dói um pouco.
Gostava de ter menos certezas, mais inseguranças.
Menos prazer e mais angústia.
Mais vómito e menos sonhos.
Os meus sonhos estão perdidos.
Ainda espero, também, encontrá-los.
Perdidos nas minhas telas ainda por pintar.
E o branco apavora-me.
Afinal, espero.
Espero o branco
e a limpeza, a segurança eférmera,
o claro do sol quando nem
consigo abrir os olhos numa de
Junho, a caminho do trabalho....
CátiaBISCAIA
1 comentário:
"Gostava de ter menos certezas, mais inseguranças"
nunca ninguém TEM certeza de nada (a não ser da morte)
as certezas não passam de pretensões disfarçadas de ilusões!
e a segurança está em sentir-se seguro no caminhar, ainda que no escuro...e sem rumo...
Enviar um comentário